Nem faz tanto tempo assim, era difícil encontrar uma garrafa de vinho nas mesas das churrascarias brasileiras: tulipas de chope e as caipirinhas dominavam. Hoje a situação se inverteu, e as casas especializadas em carnes estão entre as que mais vendem tintos para acompanhar picanhas, costelas e afins. Não à toa, algumas das melhores cartas do país estão em churrascarias, como o Giuseppe Gril e os paulistanos Varanda Grill e Baby Beef Rubaiyat. Outras apostam em rótulos próprios, como Porcão, Fogo de Chão e Otto.
— A situação mudou completamente, e quase todos os clientes hoje pedem vinho. Há uma tendência a se escolher os mais parrudos, de Chile e Argentina, mas eu prefiro vinhos mais delicados. Para um churrasco, um bom Côtes du Rhône é infalível. Vinhos com muito corpo, pesados, acabam sendo enjoativos para um churrasco entre amigos — diz Roger Khouri, do Esplanada Grill.
De uma maneira geral, para um churrasco tendemos a pensar em um bom Malbec argentino, ou Tannat uruguaio, países que são referência quando o assunto é carne — e mesmo um Cabernet Sauvignon ou Carmenère chileno, que pega carona na vizinhança. De fato, são estilos que funcionam. Mas a melhor uva para acompanhar um bom churrasco é a Shiraz, seja através dos vinhos do Vale do Rhône, sejam os australianos, chilenos e também os do Sul da Itália (também vale apostar num rótulo produzido com a uva Primitivo). Uma boa escolha é o chileno Ramirana Reserva Syrah (importado pela Cantu e vendido a R$ 40,50).
Em agosto abre as portas, no Leblon, a Parrilla Gonzalo, especializada em cortes platenses, como bife ancho e tira de asado, além das chamadas achuras, os miúdos que fazem sucesso com os hermanos, como morcilla, riñone e molleja.
— Para essas carnes, que apresentam bastante gordura, eu acredito que o melhor vinho seja mesmo um bom Tannat, como os da Bouza (da Decanter) e os da Carrau (da Zahil). São vinhos que apresentam taninos firmes e uma boa acidez, que equilibram a untuosidade das “achuras” — explica o chef uruguaio Gabriel Mangini, recém-chegado ao Rio para pilotar a parrilla do Gonzalo.
Um belo Bordeaux é um vinho que vai sempre se sair bem ao lado de carnes assadas, mesmo no calor da brasa (especialmente com cortes de cordeiro), como o L de Laffitte Laujac 2006 (R$ 59, na Grand Cru), um ótimo exemplar de um Médoc bom de preço.
Outra região que tem garrafas capazes de acompanhar muito bem um bom churrasco é o Douro, com os seus tintos elegantes e profundos. Foi lá que o sommelier do Porcão buscou o novo vinho da casa, produzido pela Lua Cheia em Vinhas Velhas. Batizado de Porcão Andreza Garrafeira Douro 2005 (R$ 160), com taninos macios e uma ótima acidez, elegante e frutado, com aromas de pimenta e um toque defumado.
— Procurei fugir do óbvio e escolhi esse vinho, que consegue acompanhar bem desde uma picanha à costela assada longamente — diz Eliezer Orso, sommelier do Porcão.
Esta reportagem foi escrita para edição do dia 22/7 da Revista.
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