28 de setembro de 2012

Pablo Neruda


...Fui como um ferido pelas ruas até que compreendi que havia encontrado amor, meu território de beijos e vulcões.

Não sabia o que dizer, a minha boca não sabia nomear,
meus olhos eram cegos, algo me golpeava a alma, febre ou asas perdidas, fui me fazendo só, decifrando aquela queimadura, e escrevi a primeira linha vaga
(...)
E eu, um mínimo ser, ébrio do vazio enorme constelado,
à semelhança, à imagem do mistério,
senti-me parte pura desse abismo, girei as estrelas,
meu coração se desatou no vento.

Te amo, beijo em tua boca a alegria.
Tragamos lenha. Faremos fogo na montanha.

da não estou preparado pra crescer
e aceitar que é natural,
para reconhecer que tudo
tem um princípio e tem um final.

Ainda não estou preparado para não poder te olhar
ou não poder te falar.
Não estou preparado para que não me abraces
e para não poder te abraçar...

Já és minha. Repousa com teu sonho em meu sonho...
... enquanto eu sigo a água que levas e me leva:
a noite, o mundo, o vento enovelam seu destino,
e já não sou sem ti apenas teu sonho.

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora, mas a amada já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Chegastes à minha vida com o que trazias,
feita de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti, assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui...
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura de um amor verdadeiro.


...nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante...

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...


Pablo Neruda

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