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27 de dezembro de 2012

"- Esta felicidade não é a minha, obrigada."




O jeito mais fácil de ser infeliz é viver a vida na expectativa de que a vida seja o que esperamos dela, de que a vida seja, enfim, a vida sonhada, fantasiada – que, diga-se – no mais das vezes, é o “modelo de vida” standard (ou Premium, se formos ambicioso como mandam as revistas) que o mundo nos fornece num kit com itens, cores, sabores, acessórios, cenas predeterminadas, trilha sonora (de acordo com o bom gosto vigente), objetivos a serem alcançados, níveis de dificuldade mínimos e que incorporamos lépidos, fagueiros e insuspeitos, como nossos.


Do emprego ao filho que nos fariam felizes (se fossem como sonhamos), passando pela família e o casamento (nos modelos perfeitos e ideais), esperamos pelo dia em que abriremos os olhinhos, maravilhados olharemos ao redor e ganharemos um ótimo 5 estrelinhas de nós mesmos, um certificado inconteste e seguro de que agora tudo está como sempre deveria ter sido. Aí sim, seremos felizes. Aí sim, vamos poder sorrir e relaxar porque afinal, vencemos. 

Mas só de pensar sobre isso (pensar por si só já faz bem), de olhar as coisas por este ângulo (do quanto o “ideal” não é o nosso) por breves instantes, já percebemos o engodo da fantasia – e/ou pior ainda, mais grave e de mais difícil superação – percebemos uma suposta incapacidade e insuficiência atávicas de alcançar o objetivo ideal. Neste caso, antes de mais nada, é preciso perceber que não se trata de uma inaptidão particular de realizar “o sonho”, que não somos aleijados de espírito ou vontade, que não deixamos de deter excepcionalmente o dom a todos concedido – ou concedido aos ungidos (e para entender “só” isso pode ser que se leve a vida inteira). Depois, é preciso entender que: a) trata-se de uma impossibilidade geral e irrestrita, simplesmente porque “o sonho” é irrealizável para quem quer que seja, a despeito do que possa sussurrar a voz deslegitimadora e sarcástica dentro das nossas cabeças; e b) porque o ideal, a fantasia, o sonho nem é autenticamente nosso, nem é composto pelos nossos reais desejos. 

Aí podemos desistir de buscar a (in)felicidade padrão, podemos procurar entender o que faz a nossa própria, única, irrepetível, incopiável felicidade, a despeito do que os outros acharão dela (O que eu quero? O que é bom? O que eu gosto? O que me importa? Do que eu não abro mão? Quais são os preços que eu me disponho a pagar?) para então nos permitirmos ser felizes, pelo simples fato de termos/estarmos buscando o que realmente queremos, o que nos importa, o que desejamos, todos os dias. Ticcia.

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