Resolvi escrever, para tentar ilustrar um pouco do que um pai que carrega seu filho no sling passa ao sair de casa. Olhares julgadores, apontamento de dedos, risos e uma série de reações que te fazem perguntar: O que estou fazendo de errado?
Não sei se isso é uma cultura do interior, mas agora que sou pai, levo ao pé da letra o ditado que diz: Não se importe com que os outros dizem. Sempre existirão os difamadores, os preconceituosos, os faladores que irão sim, te apontar e criar mil ideias maliciosas sobre sua pessoa, mas também sempre existirão os pais que se agarram, assim como eu, na ideia de que tudo que envolva amor, carinho e cumplicidade para com seu filho é válido, independente de tudo e de todos.
Não foi somente minha vida que mudou com a chegada do Valentim. Foi minha percepção de mundo, de pessoas, de vida. Vejo hoje, um mundo desumano que vai receber o meu filho. Vejo esse mundo e penso que farei e suportarei de tudo para muda-lo, até mesmo, ser apontado na rua por estar carregando-o em um sling.
Sim, carrego-o, pois sei a importância de nossa aproximação, de nossa interação, do nosso envolvimento. Não o carreguei na barriga única e exclusivamente por questões naturais que me impediam e impedem, pois se possível fosse, teria com toda a satisfação do mundo, dividido a gestação com minha companheira.
Por outro lado, sei que numa cidade do interior, na qual vivemos hoje, eu posso me tornar um exemplo. Talvez o exemplo do cara que vai na padaria com seu filho a tira colo amarrado em um pedaço de pano. O pai que faz as vezes de mãe, carregando-o como se fosse uma mulher africana. O pai que auxilia a mãe a amamentar na rua ao primeiro sinal de tristeza do seu filho.
Sou pai, sou mãe, sou humano, sou amigo e sou mil e uma outras coisas para que meu filho seja uma criança amada. Para que ele saiba que é amado. Para que no futuro, ele se torne uma criança amorosa e respeitosa para com os seus. Eu crio, para que ele crie. Eu amo, para que ele possa amar. Eu acolho, para que ele possa acolher. Eu vivo o presente, para que ele possa viver o futuro. Em um mundo melhor, ou pelo menos, menos julgador.
Felipe Nunes, 27 anos, pai do Valentim que hoje está com dois meses. Valentim é filho de um lindo parto domiciliar. Nasceu na piscina, dentro do próprio quarto e fez com que eu tivesse uma bandeira para levantar. Apoiador agora, incontestável do parto domiciliar e natural em todas as situações. Sou mais um na luta por condições dignas e humanas para que mais crianças sejam acolhidas no colo de suas mães e não em um maca recebendo colírio de nitrato de prata em seus olhos.
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