12 de março de 2014

farm entrevista: airá ocrespo

Foto: Dani Dacorso
Há pouco mais de um mês o Rio é oficialmente apoiador do grafite, porque em janeiro o prefeito assinou o decreto “Grafite Rio”, que tem dado o que falar. Apesar de já colorir e inspirar o dia a dia das paisagens do carioca há décadas, só agora essa arte começa a ser reconhecida legalmente pela política. A notícia, no entanto, provocou rebuliço no meio artístico e levantou questões pra lá de polêmicas.
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“Mas e a essência transgressora?”, “E precisa lá de decreto pra fazer arte?”, “Vai mudar alguma coisa?”. Entre questionamentos válidos e acalorados, chamamos o Airá (que já trabalhou com a gente na Casa de Verão) pra contar melhor essa história. “O decreto manifesta publicamente a importância que o grafite tem pra cidade. Isso pode render bons frutos pra nossa arte”, ele explica.
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O cara tá na cena há anos e já espalhou muitas de suas ideias pelos muros da cidade. No Grafite Rio, ele participou das reuniões de formatação do projeto. Além disso,  é curador do GaleRio, que vai cobrir toda a linha 2 – de São Cricri até Pavuna – com grafite e promete se transformar na maior galeria a céu aberto do planeta.
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São mais de 40km de arte pra quem enfrenta essa jornada todos os dias. Sobre o Grafite Rio, ele figura entre o grupos dos otimistas: “a médio prazo essa iniciativa pode transformar a gente em pólo mundial da arte urbana”. Se liga!
Conta pra gente o que o decreto Grafite Rio significa.
O Decreto é criado pra manifestar pública e oficialmente que o grafite tem grande importância pro Rio e principalmente pra balizar as decisões e procedimentos internos do poder público sobre essa arte. Ele também institui meios de fomentar a arte urbana na cidade, como através da liberação de determinadas áreas para a livre prática de grafite, dando suporte pra catalogação virtual da arte urbana pelo #StreetArtRio, com o projeto GaleRio que é uma plataforma de revitalização urbana por meio da arte e também com o apoio a um Conselho Carioca de grafite.
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Qual a importância dessa iniciativa?
É grande em vários aspectos, vai fazer com que os projetos de grafite sejam vistos com outros olhos em meio aos processos burocráticos de editais e autorizações da Prefeitura. Também vai permitir que os artistas urbanos tenham mais tranquilidade pra realizar suas ações, sem temer uma abordagem brusca da lei. Além disso vai potencializar um site que está mapeando a arte urbana na cidade permitindo que esta se eternize pela rede através do GaleRio. A iniciativa também ajuda a abrir um canal direto e desburocratizado de diálogo dos artistas com o poder público, através do Instituto Eixo Rio.
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O que você acha da polêmica que foi criada em torno da novidade?
Acho que a polêmica foi desnecessária, mas de certo modo ela é natural. As pessoas estão bem chateadas com a Prefeitura e por melhor que seja uma iniciativa tomada por ela, gera uma série de desconfianças. Além disso o grafite tem caráter transgressor e uma origem livre. Daí muita gente especulou achando que o decreto estava vindo para regular a ação dos artistas, o que não é verdade. Muito menos dizer o que é arte e o que não é, como até noticiado foi. Isso foi um equívoco, é o inverso da nossa proposta que é a de agregar valor.
Eu me Vendo
O que você acha da aceitação arte urbana hoje no Rio?
Eu vejo que é um movimento que está se consolidando, a cidade acata muito bem ao grafite. As pessoas passam e nos elogiam enquanto estamos pintando, pegam nosso contato, pedem pra tirar foto junto. E isso vai da Zona Sul ao extremo da Zona Norte ou Oeste. Pra citar um bom exemplo o Profeta Gentileza, que foi o primeiro grafiteiro da cidade, teve suas obras tombadas como patrimônio e o seu lema “Gentileza gera Gentileza” se tornou praticamente um slogan do Rio.
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O que pode mudar com esse decreto?
Nas ruas, influi pouco mais significativamente, pois melhora a visão que qualquer tipo de agente repressor possa ter em relação ao nosso ato. No próprio lançamento do decreto, foi enfatizado que o documento era um ato simbólico pra dar mais respaldo a ação dos artistas na prática e na hora de tentar conseguir apoio para realizar ações maiores. Mas olhando como um todo, creio que o decreto potencializa a cena do grafite do Rio e a médio prazo pode transformá-lo num dos maiores pólos dessa arte no mundo.
Qual o cantinho do Rio que você acha mais a cara do grafite?
A Lapa, porque tem essa atmosfera informal e despojada que o carioca possui e que é típica do grafite. A Lapa tem uma cultura de Rua muito forte e é um bairro que tem importância fundamental na história da cena por ser um aglutinador. Locais como a Fundição Progresso, por exemplo, já abrigaram movimentos estratégicos em diversos momentos.
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Onde você vai mandar a sua próxima arte?
A gente não planeja, as pinturas acontecem espontaneamente. Mas em março vai rolar a primeira fase do projeto GaleRio e eu estarei com uma equipe pintando próximo a estação do Metrô de Triagem. Criaremos um corredor cultural lá, vai ser uma grande empreitada. Fora isso eu tenho grandes trabalhos como por exemplo no muro da Usina do Asfalto, na Leopoldina, no muro do Museu Histórico Nacional, na Praça XV e na Lapa, no mural dos Boêmios em frente ao Circo Voador.
Quais são as suas referências na hora H?
Minha principal referência é a música, pois sou MC também e me ligo muito nas sonoridades e ritmos. Gosto de arte em geral, poesia, literatura, dança, performance… sou aberto a tudo que for bem criativo e original, pois gosto de inovar sempre. Meu traço caminha cada vez mais pra uma estética impressionista e essa é uma escola distante do grafite. Muitas vezes a moda e a publicidade também me inspiram, então eu procuro estar sempre antenado em tudo pra ir processando e produzindo do meu jeito.
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O que mais falar? Viva o grafite! \o/

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