Por Zuggi Almeida
Walmir Dois Mundos mudou de endereço, não por opção sua, mas por uma convocação suprema e esse drible na vida não foi possível de ser dado.
Partiu num dia de Terça da Benção, talvez buscando a purificação necessária para viver entre anjos celestiais, caso que gera dúvidas profundas aos contemporâneos que nesse mundo, aqui ficaram. Walmir era mundano, profano, boêmio e viveu tudo que a esbórnia lhe proporcionou, portanto isso não garantepassaporte para uma pós-vida contemplativa ao som de harpas e violinos. Walmir Dois Mundos era malandro e bastante vivo.
Muito vivo!
Dois Mundos era sacana quando queria. Mas, Walmir era bacana, sempre, e acima de tudo, muito leal com seus pares. Possuía uma fidelidade canina, essa não afeita a esse mundo regido pelo egoísmo e pela falsidade. Uma cara fraterno, boa praça e pós-moderno.
Sim, Dois Mundos era pós-moderno, interpretando um personagem dele próprio, ninguém sabia se naquele momento estava presente o criador ou a criatura. Era multifacetado, criativo e expert em economia doméstica, nunca o orçamento familiar saldou negativo sem que o leite dos seus meninos deixasse de chegar à mesa no final do dia. Oxossi, seu orixá sempre “chegava junto” e marcava presença naquela hora.
Outra faceta do nosso herói era fazer filhos. Walmir distribuiu seus mundos por nove ou onze pimpolhos - o censo não é exato,e que hoje choram a falta prematura do pai responsável, amável, dedicado e parceiro. Conhecedor dos desvios que vida pode aprontar, Dois Mundos mantinha a sua prole no caminho da retidão, do respeito e da cidadania através da educação. Qual realidade será oferecida para esses meninos e meninas depois do amanhã?
Só o tempo. Tempo dirá.
Walmir de Araújo Castro abdicou da identidade civil para interpretar na vida e no cinema o Dois Mundos por Dois Mundos mesmo. Ficção e realidade misturavam -se num caldeirão recheado de experiências vivenciadas nas ruas do Centro Histórico de Salvador e Walmir Dois Mundos transitou tranqüilo pelo fio da navalha exposto todos os dias no Maciel de Baixo e de Cima, na Laranjeiras, na 28 de setembro. Era um outsider que atuava nos limites impostos pela lei e pela ordem.
Anarquista contemporâneo, Walmir Dois Mundos digeriu com farofa de dendê todas as ideologias políticas que lhes foram apresentadas, isso porque era um dos representantes diplomáticos do Pelourinho que recepcionava as comitivas durante as visitas realizadas pelos mandatários do governo baiano naquela região, além disso circulava com desenvoltura pelos gabinetes oficiais do poder. Com as mudanças nas matízes políticas na Bahia, o acesso de Walmir Dois Mundos ao poder continuou o mesmo. O cara era foda.
Dois Mundos era do axé, portanto seu novo endereço será em lugar no Orun. Dimensão de muita gente conhecida dele e logo haverá o reencontro com Neguinho do Samba, Petú, Germano, Putuca e tantos outros que fizeram desse mundo daqui o melhor lugar para dividir alegrias e tristezas com grandes amigos.
Ah! Na entrada do Orun , quem irá recebê-lo será Jorge Amado com a frase seguinte:
- Walmir Dois Mundos você foi o último porreta do Maciel. Bem - vindo mão!
Valeu Walmir !
Até qualquer dia, "Minha Carniça"!
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