23 de agosto de 2013

Especial Preço: quanto custa o seu negócio criativo?


No mês passado publicamos o primeiro post da nossa série sobre preços, falando sobre analisar o valor do seu produto. Os comentários viraram um debate sobre ética no artesanato, cópias, originalidade, formação de preço. Ufa! Trata-se de um assunto  quente e nós estamos longe de ter a palavra final, mas acreditamos que trocar informações com vocês pode esclarecer um pouco mais os nossos artesãos sobre a importância que o preço exerce em seus produtos.
No post anterior falamos sobre o primeiro passo que devemos fazer antes de começar a pensar em precificar nossos produtos: buscar a qualidade e a originalidade em tudo o que fazemos. Em poucas palavras, se o seu produto é bom e original você já tem o essencial para começar um negócio criativo de sucesso. O segundo passo é pensar nos custos e despesas do seu negócio criativo.
Olhe para uma de suas criações e antes de pensar em quanto cobrará dos seus clientes, faça a si mesmo(a) essa pergunta: quanto custa produzir esta peça?
 
Não pensar em todos os custos básicos dos produtos é o erro número um de muitos artesãos quando vão precificar. O valor final do produto vai depender da soma de diversos custos e despesas, como: matéria-prima, mão de obra, impostos, porcentagem sobre a venda, contas básicas (luz, internet, água, gás, telefone, aluguel), imprevistos, material de escritório, embalagens e por aí vai.
Definir o custo de um produto é relativamente  fácil, mas requer de muita atenção. Vamos começar? Vamos entender o que significam os conceitos mais básicos que envolvem a formulação de qualquer preço: custos fixos, custos variáveis e lucro.
 

Custos fixos
São todos aqueles custos que, independente de realizar ou não suas vendas, terão que ser pagos. São eles: aluguel, água, telefone, internet, gás, contador, impostos, seguro, sua conta PRO no Elo7, registro de domínio, entre outros.
Custos variáveis
Todos os custos que variam de acordo com o volume de venda ou produção. Simplificando, são aqueles custos que irão aumentar ou diminuir se você aumentar ou diminuir suas vendas. Matéria-prima, embalagens, taxas sobre as vendas como PagSeguro ou comissão para vendedores, bazares e lojas físicas, gastos com propaganda, combustível ou transporte e muito mais.
Lucro
É tudo que excede da sua receita retirando-se os custos. Simplificando, é aquela quantia  ”livre” que você receberá a cada produto vendido. O lucro é a razão de ser de qualquer negócio, seja ele grande, médio ou pequeno, como no caso dos artesãos. É com esse dinheiro que você poderá reinvestir no seu negócio, ter rentabilidade e perspectiva de crescimento.
Os conceitos são fáceis, né? Agora para saber aplicá-los na prática, pedimos ajuda a Júlia, uma artesã fictícia, super dedicada que também está aprendendo a calcular seus custos para precificar seus produtos. Essa é sua história:
 

Júlia vende broches de feltro bordados à mão. Ela trabalha durante o dia como designer em uma agência de publicidade. Durante a semana ela dedica 3h por dia de trabalho ao seu negócio criativo, mais 6h aos sábados, totalizando 84h mensais. Sua loja se chama “Broches da Júlia” e fica em uma mesa no canto da sala junto com seus suprimentos, ferramentas, luminária, máquina fotográfica e notebook. Esta é a estrutura do negócio criativo de Júlia.
Quando está trabalhando, além dos materiais necessários para fazer as peças ela utiliza energia e internet para responder às clientes por e-mail e divulgar seus produtos em seu blog. O telefone também é utilizado, mas não muito. Uma vez ao mês ela vai de táxi ao centro comercial comprar feltro, linhas, botões e novas agulhas, contas, cola para tecido, presilhas e pesquisa novos materiais para trabalhar, gastando R$40 nesse percurso. Estes são os dados básicos que Julia usa para calcular os custos fixos.
 

Na ida ao centro comercial ela também compra embalagens, tags, sacolas, etiquetas, caixas e investe até R$50 para a compra de novos materiais. Assim ela economiza, pois sabe que comprar matéria-prima “picado” gera gastos maiores. Estes são seus custos variáveis, pois dependendo da quantidade de encomendas ela compra mais ou menos materiais, e os preços variam de acordo com o mercado.
Ela posta seus produtos na hora do almoço em uma agência dos correios próxima do seu trabalho, assim não tem mais gastos com transporte. Ela já registrou seu pequeno negócio pelo MEI, assim paga apenas uma taxa fixa de impostos e tem todas as vantagens de estar com um negócio regularizado. Estes custos também são calculados.
Para calcular seus custos e despesas fixos ela fez a seguinte planilha:
 
tabela custo fixo broches julia elo7

 
Os dados são todos fictícios (assim como a Júlia), mas baseados nos valores atuais de mercado. Veja abaixo os detalhes de como chegamos a alguns dos valores na tabela acima, para que você possa montar a sua:
Registro de domínio e loja PRO do Elo7: para ter o endereço personalizado na internet (ex: www.brochesdajulia.com.br), Júlia paga uma taxa anual de R$ 30 e a conta PRO custa apenas R$ 29,90 por ano. Para ter o custo mensal dividimos estas taxas por 12.
Impostos (MEI) e taxas bancárias: se você paga impostos, contador, ou qualquer outra taxa para ter o seu negócio criativo, tudo isso deve ser computado. Se você tem uma conta exclusiva para seu negócio criativo coloque o valor total, caso não seja coloque o valor proporcional ao seu uso para os seus produtos
Internet, Luz, Celular e Aluguel: um dos principais erros de quem trabalha em casa é misturar as contas pessoais com as profissionais. Divida as contas mensais pelo número de horas existentes no mês (720). Assim, você descobre o valor/hora de cada conta. Multiplique o valor encontrado pelo número de horas que você efetivamente está trabalhando (no caso, Júlia trabalha em casa apenas 84h mensais). Atenção: esta é uma forma simplificada de encontrar o valor real destes gastos. Você pode calcular estes valores mais detalhadamente, principalmente se você trabalha o tempo inteiro em casa. Se este for o seu caso, calcule apenas a estrutura que utiliza (ex: o consumo elétrico dos seus aparelhos) para não acabar tendo um custo fixo maior do que o real e acabar comprometendo no valor dos seus produtos. Afinal, aquele banho quente e demorado do marido e o ferro que passa a roupas de toda a família não entram  nas contas do seu negócio, não é mesmo? ;)
Seu salário: Pesquise quanto ganha alguém na sua profissão principal (vai depender da técnica que você utiliza) ou utilize tabelas de piso salarial disponíveis na internet como referência. Faça a seguinte pergunta: o que você deseja obter com o seu negócio criativo? Uma renda extra para auxiliar em casa? Dinheiro para cobrir seus custos com estudos? Ou a sua fonte principal de renda?
Dependendo da sua resposta, estipule (isso mesmo, defina você mesma!) um valor que acha justo (e real) para ser o seu salário.
Divida esse valor pelo número das horas de trabalho que você dedica ao seu negócio criativo. No caso de Júlia, como os broches são apenas uma renda extra, ela estipulou que apenas um salário mínimo por mês como salário satisfaz as suas expectativas (este valor pode mudar de acordo com a sua necessidade).
Atualmente o salário mínimo é R$ 622,00. Dividindo esse valor pelas 84 horas de trabalho mensais que ela dedica ao seu negócio criativo, temos o valor de R$7,41/hora. Este é o valor da hora de trabalho dela (é legal saber de cabeça o valor/hora do seu salário para poder reavaliar este valor sempre que se dedicar mais horas do que o estipulado e quem sabe fazer reajustes de acordo).
Depreciação: é um nome complicado para algo muito simples. Quando usamos nossas máquinas e ferramentas para produzir peças elas sofrem um desgaste natural.
Com o tempo, o uso constante resulta na quebra, e temos duas opções se isso acontece com algo que necessitamos para trabalhar: manutenção ou compra de um aparelho novo. Sugerimos que você calcule a taxa de depreciação dos seus produtos e inclua esse valor mensalmente em uma poupança para poder realizar a manutenção ou compra caso isso aconteça. Imagine que a sua máquina de costura quebra bem no mês em que você teve poucas vendas. O que poderia ser um desastre financeiro pode ser somente um contratempo se você se prevenir. Pense nisso! ;) Para calcular, pegue as suas principais ferramentas de trabalho e aplique a fórmula:

 

depreciação =  valor de mercado – valor residual                   
                                               vida útil
Máquinas pesadas – 10 anos
Máquinas Leves – 5 anos
Veículos – 5 anos
Móveis e utensílios – 5 anos
Microcomputadores e eletrônicos – 5 anos
valor de mercado = valor de mercado da ferramenta/máquina
valor residual = valor que você conseguirá vender as suas máquinas ou ferramentas usadas ou quando estiverem obsoletas
vida útil = vida útil estimada das suas máquinas ou ferramentas (em anos)
De móveis e utensílios, Júlia utiliza: duas tesouras, uma mesa, uma cadeira e uma luminária. De eletrônicos: um notebook e uma máquina fotográfica.
O valor de mercado destes móveis e utensílios somados dá:  R$100 + R$500 + R$200 + R$150 = R$950. O residual total: R$ 475. A vida útil: 5 anos.
Aplicando a fórmula, a depreciação anual é de R$ 95. Dividindo por 12 meses dá R$  8
O valor de mercado dos microcoputadores (eletrônicos) somados dá: R$2.500 + R$800 = R$3.300. O residual total: R$ 1.650. A vida útil: 5 anos.
Aplicando a fórmula, a depreciação anual é de: R$ 330. Dividindo por 12 meses dá R$ 27,50
Material de escritório: estes irão variar de negócio para negócio, mas são todos os materiais que são básicos para a empresa poder realizar atividades como papel, canetas, lápis, cartucho de tinta, etc. No caso de Júlia, além destes utensílios ela inclui alfinetes e agulhas pois seguem esse princípio.
Papel, caneta, calculadora ou um computador em mãos? Liste os seus custos fixos, tire suas dúvidas nos comentários e aguarde o próximo post onde iremos explorar os custos variáveis e o lucro de Júlia. Boas contas!
OBS: Para calcular os custos dos produtos existem muitas maneiras e estamos longe de sermos referência no assunto. Estas instruções têm o intuito de auxiliar quem está começando a se aventurar nesse universo de maneira didática e direcionada aos artesãos. Para quem já é craque ou quer se aprofundar mais, sugerimos uma visita ao SEBRAE mais próximo ;)
 

2 comentários:

  1. Impressionante este post... Parabéns!

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    1. Esse post foi retirado do Blog do Elo7, o conteúdo do post é bastante elucidativo!

      Super beijo,

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