22 de dezembro de 2011

A nostalgia dos mitos



No início deste mês morreu a diva do cinema mexicano Maria Félix, cuja carreira infelizmente não acompanhei. No entanto, mesmo não sendo minha contemporânea, senti uma certa nostalgia ao ler as reportagens que lamentaram sua morte, nostalgia essa que se repete cada vez que falam sobre Marilyn Monroe, Rita Hayworth ou Greta Garbo. Elas não eram apenas grandes atrizes, eram mitos. Assim como também foram mitos Clark Gable, Burt Lancaster e Humphrey Bogart. Essa turma nunca teve correspondência imediata com a realidade, eram quase abstrações. Bastava que mantivessem um toco de cigarro aceso no canto da boca ou que ajeitassem o decote com uma certa malícia para incendiar o imaginário coletivo.
Coisas de  antigamente. Mitos estão em falta no mercado. Quando muito, restam-nos alguns ícones, seres representativos de uma época, como Madonna ou Pelé, e as gerações seguintes nem isso conhecerão. Qualquer ator, esportista, dançarino, político ou músico terá sua vida íntima desvendada já no seu primeiro minuto de fama, nem serão necessários os outros 14 para desconstruí-lo. Os novos ídolos já vêm com raios X: os conhecemos de trás pra frente através de entrevistas, fotos, aparições, indiscrições, games, flagrantes, biografias autorizadas e não autorizadas. Suas vidas são um ininterrupto making off, que acaba sendo mais divertido do que o espetáculo propriamente dito. Leo di Caprio, por exemplo, com seu boné virado pra trás, suas idas diárias ao supermercado com Gisele, seus passeios com o cachorro na beira da praia, e cuja mãe foi parar em cima de um trio elétrico na Bahia: um mito? Mito é o meu vizinho do décimo andar, que só sai de casa às quintas-feiras à noite de óculos escuros e cujo nome verdadeiro ninguém descobriu até hoje.
Para haver um mito, é preciso mistério, e para haver mistério é preciso distância, desconhecimento, interrogações. O excesso de informação inviabiliza o surgimento de figuras enigmática, de personagens que povoem nossa imaginação tão carente de estímulo. Conhecemos as preferências sexuais de Hugh Grant, sabemos que Cláudia Raia sonha em gerar uma menina do signo de aquário e colamos na parede o pôster do clone do Lucas, que veio de brinde com a trilha sonora. Não vivemos numa aldeia global, e sim num barraco global, embolados uns nos outros em gritante promiscuidade. É isso que faz a gente ter saudades do que não viveu.

Martha Medeiros. 

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